domingo, agosto 31, 2008

Sem luz, porque...

As tardes sempre tiveram muita claridade. Ambos gostavam da luz, mas ainda não tinham se visto fora dessas luzes artificiais criadas por lâmpadas ou fogo de isqueiros que acendiam os cigarros que ela tanto detestava.

Essas luzes artificiais que escondiam as imperfeições e mudava os pensamentos, fazendo encontrar beleza onde na verdade só havia uma vaidade querendo ou não encantar olhos alheios.

Os outros se aproximavam, quando ela estava só, mas logo que ele percebia, chegava perto dela, passando um braço pela cintura ou falando qualquer bobagem desnecessária. Que chegava perto dela, passando um braço pela cintura pra mostrar que mesmo não sendo, ela era só dele. E ele ria pra ocasião. Por fora. Do lado de dentro se rasgava e se enganava. Devia ser zelo ou algo parecido, já que agora, os dois, nem mais se tinham fisicamente.

Ela se mordia quando o via conversando com qualquer outra figura feminina. E achava inescrupuloso que os sorrisos dele já não aconteciam espontaneamente por causa dela.

Precisavam do sol para que se vissem apertando os olhos. Se irritavam, agora. Não concordavam com as coisas distintas e procuravam os motivos que os faziam ser juntos. Não encontravam. Fingiam que já nem importava mais e que de todos os últimos acontecimentos, o menos importante era o fato de não caberem mais nos seus abraços.

Deveria servir pra sempre. Ela sentindo uma necessidade imensa de tê-lo por perto, junto. Ele sentindo uma necessidade de fuga, de ser arrogante pra mandar o sentimento, que sabe-se lá, fosse só dela agora.

E das buscas de entendimento, preferia deixar como está. Deve de estar bom. Quando não pra um lado e sim pro outro, logo acontece alguma tempestade que arranca as árvores sem superficialidade, levando embora até as raízes e deixando somente um buraco fundo e dolorido, por não ter mais o que se ama plantado nas terras do coração. Que ele ainda mora nela e ela nele, também. Mas não se querem, não se podem e só se sabem. Sem luz, ou com, enquanto não mais se têm.

sexta-feira, agosto 01, 2008

Endereçada a:

Meu amigo,

quis te escrever essa carta porque sinto falta de te contar muitas coisas. Te conto tudo em pensamento, mas agora começo a me dar conta de que tu não me ouves mais, quando faço silêncio. Às vezes quero te ligar, te encontrar pra tomar café e discutir sobre os livros que eu li e que tu não aprovaste, ou sobre as cidades que conhecemos e que concordamos ou não em alguns pontos. Sobre os bairros e as ruas mais bonitas... enfim. Essas coisas que fazíamos religiosamente de tempos em tempos e que agora já não fazemos mais.
De qualquer maneira, meu querido amigo, quero te contar que muitas coisas têm acontecido. Na verdade eu não sei exatamente o que acontece, mas me pego mergulhada nas ondas que chegam até mim sem escolha. Muitas coisas ao mesmo tempo. Escolhas também. Tu sabes bem como é! Agora, escolhi ficar só com minhas letras unidas em palavras de escrever e ler. De falar, não. Porque como tu já sabes, eu preciso sempre de sentidos e nem sempre os sons fazem sentido pra mim. E eu sei que agora tu lembraste do querido Mário Quintana, dizendo genialmente que quem faz sentido é soldado e que, "por isso, Mathilde, não se preocupe com os sentidos e nem com as direções". Sinto falta da tua esperteza e me pergunto pra onde ela pode ter ido. Sabe-se lá, não é? Deve ter ido dar algum sentido ou direção pra alguma outra cabeça cheia de nós. E veja só, acaba por tudo ser como sempre foi.
Eu tenho cantado também. Canto e sorrio muito. Me faz bem.
Também continuo com as caretas matutinas. Maior divertimento fazer caretas e sorrir pro espelho logo pela manhã. Tu continuas sorrindo, não é? É importante manter sempre teu sorriso alegre. Ele ilumina as pessoas que têm a ventura de te presenciar todos os dias. Eu continuo sorrindo pra mim e pra ti, pelas manhãs. Porque me olho no espelho e te vejo refletindo, nas minhas saudades.
Para me despedir não farei nenhuma recomendação. Eu sei que tu te cuidas bem sozinho e que a tua mãe te faz sempre todas as recomendações necessárias. Só te peço pra que me escreva contando sobre tudo o que acontece por aí.
E claro, não sei me despedir. Só te deixo um beijo.

Com carinho,
Mathilde.