Eu moro em Valdrada, mas isso não é verdade. Também não é mentira. Eu moro em Turvo, sul de Santa Catarina, o que também não é mentira, mas que com certeza não é uma verdade. Escolhi Valdrada porque é cidade que se reflete. Ela é cidade invisível, criada pelo Italo Calvino, mas eu me sinto muito mais moradora de lá do que dessa cidade onde moro e não vivo. Não é viver no sonho ou na fantasia, mas escolher onde se quer viver e antes de estar onde vai ser o meu lugar, preferir deixar o ar da minha respiração numa cidade que nem existe de verdade.
Mas acontece que encontrei o mapa das cidades invisíveis, as mesmas que o Italo inventou e pra onde Marco Polo decidiu viajar, conhecer e descrever para o imperador Kublai Khan das belezas ou não desses lugares inventados.
A cidade onde eu moro não é ruim. É tranquila, não tem violência, dá pra dormir com a janela do quarto aberta que ninguém entra... Mas mesmo assim não gosto daqui. Não por ser um lugar pequeno, mas por ser um lugar que não cresce dentro de mim. É a cidade da minha infância e da minha adolescência, não quero que seja da minha vida adulta. E tenho meus motivos, mas nenhum que colocasse aqui explicaria meu sentimento.
Dentro de mim tem uma pergunta que nunca se cala: "Qual será minha Valdrada?".