quarta-feira, abril 02, 2014

Destralhar


Parei pra pensar, me ver de fora de mim mesma. Como se qualquer outra pessoa pudesse me conhecer tanto quando eu mesma. Se eu soubesse desenhar, me expressaria muito melhor, mas não nasci com esse dom, então vou tentar me descrever, de modo que cada parte a ser destralhada, realmente seja descartada.
A gente tem uma mania de guardar com a gente, não. Espera. Eu tenho essa mania. Tenho um feio hábito de manter comigo as coisas que já me cativaram. Por mais que elas doam, que me adoeçam e me façam mal, ficam alí, grudadas em mim feito tatuagem. E dizem: Tu és uma pessoa muito transparente. Será que as pessoas conseguem ver todas essas minhas tralhas? Tendo essa curiosidade de me ver por fora, consigo ver cada marca deixada com essas partes de vida. Um vinco no meu rosto marcado pelas lágrimas da perda e das inúmeras despedidas. As cordas vocais calejadas de tanto cantarolar dores de cotovelo. Um pingente quebrado depois de uma despedida pra nunca mais. 
Eu quero e estou me destralhando de tudo o que me fez mal. Veio, não soube ficar, não deu valor, não soube conviver com liberdade, não soube receber carinho, não gostou da minha honestidade e da minha falta de rodeios, tratou com grosseria, humilhou, preguiçou, não soube ir embora sem machucar... Pode ir, monte de tralhas! 
Não é algo do tipo que se desfaz doando, é jogando no incinerador de um grande lixão, onde se destróem todas as coisas que não prestam, que só ocupam espaço e causam desassosego.
Minhas portas e janelas estão abertas para o novo. E que seja luminescente, grandioso, lindo! Que me faça apenas o bem. É hora do novo vir pra ficar. 

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